Metafísica do Absurdo
6.12.04
  A Sedução do Admirável ou Ensaio de uma Ontologia da Paixão

Há tempos, participando de um simpósio de filosofia, ouvi a professora palestrante comentar o quão nos é atraente aquilo que admiramos. E não ouvi mais nada; fui tomado pelo poder das palavras e pelo pensamento sobre até onde somos levados, senão arrastados por essa espécie afecção.

Já Aristóteles comentava o poder do espanto e da admiração (to thaumázein) e sua força quase irresistível. Mas não se trata aqui apenas de um aspecto psicologizante de tal experiência: frente ao que admiramos, nós mesmos que somos postados, de certa forma, sob nosso olhar e nossa atenção. Seja uma pintura, uma obra musical, um livro ou uma pessoa, somos nós os visados porque de alguma maneira nos reconhecemos projetados no objeto; sob algum aspecto, ele nos contêm: é o desejado. Fica difícil não vislumbrar a idéia de Schopenhauer de que a coisa em si é a Vontade. Unimo-nos quase a um ponto de identidade com o admirável de maneira que fica difícil nos movermos para fora de seus domínios. O objeto em questão nos possui enquanto ausência e falta e sob este ponto de vista somos re-colocados diante da ordem das coisas, na própria existência. Assim, engana-se ao menos em parte quem julga que neste tipo de experiência estamos em uma espécie de plenitude. Ao experienciarmos o admirável, somos imediatamente colocados em marcha existencial em sua direção, e forçosamente somos potência e não ato. É a carência e não a totalidade que nos move. Talvez proceda daí aquele sentimento de vazio pelo qual somos tomados em tais experiências. O não-ser não é aqui uma ameaça; é antes de tudo um convite, uma paixão. Talvez a mais dilacerante delas.

G
 
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