Por vezes experimentamos uma graça de viver tão densa, que parece ser capaz de suportar até mesmo os mais terríveis sofrimentos. Eis o que é a beleza e o sentido de viver. Assim, preparar-se para a vida pouco ou nada tem a ver com fazer escolhas certas; é estar todo inteiro entregue à alegria, ainda que fugidia e abandonar-se a momentos com este. Sei que há o adiante. Mas também sei, com a mesma certeza, que é dele que me vem toda a minha força e todo o meu amor. E tal certeza não enfraquece nossa experiência cotidiana; ao contrário, este certeza e este gozo nos inunda de eternidade e nos arrasta como uma maré.
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Não tenho medida para desejar. O caminho do meio não me diz nada. Prefiro o Pensamento do (Sol) do Meio-Dia.
G.
Hoje encontrei um diálogo antigo, um fragmento de uma felicidade que não voltei a experimentar desde então. Mas ela se perdeu. Não sei sob quais ofícios sagrados ela desapareceu, deixando hoje apenas um aroma de algo distante. Não pretendo fazer belas palavras, mas gostaria que o tempo onde isso se deu, voltasse. Assim, simples, com mansidão e alegria. Onde eu estive o mais perto de mim, onde nem todas as alegrias de mulheres, sons e saberes me levou jamais. Sem dúvida, esse meu interlocutor que ainda vejo com uma certa regularidade se tornou para mim alguém perdido e, sem vacilar, perdi-me um pouco também.