Metafísica do Absurdo
20.10.05
  Depredem, Lapidem, Escarrem...

"Quem souber respirar o ar dos meus escritos, verificará que é um ar das alturas, um ar robusto. É indispensável estar peparado para isso, de contrário, há o perigo de sentir frio. O gelo está próximo, a solidão é terrível - mas quão pacificamente todas as coisas se apresentam à luz! quão livremente se respira!, quantas coisas se sentem abaixo!"
Nietzsche, Ecce Homo



Ao correr dos dias entender-se-ão que minha grandeza é justamente ser eu o único a saber que nada disso vale apenas um fio de seus cabelos.

G.

 
1.10.05
 
Des-Velamento ou Para um heteronímico ou Para mim mesmo sem-lugar ou

Foi nesse momento que leu no túmulo a data de nascimento de seu pai, que só então descobriu ignorar. Depois, leu as duas datas, 1885-1914, e fez um cálculo maquinal: 29 anos. Súbito, ocorreu-lhe uma idéia que chegou a lhe agitar o corpo. Ele tinha quarenta anos. O homem enterrado sob aquela lápide, e que tinha sido seu pai, era mais moço que ele."
CAMUS, Albert, Le premier homme



Na verdade, o que desejaria agora é esgotar o discurso. Vedar todas as possibilidades; não é isso o des-velamento: o arreganhar da Verdade que nos transmuta em pura apofaticidade? Estremece todo meu ser diante dessa irrupção. Mas o que nos falta é sempre algo que, em parte, já temos em nós, ainda que enquanto reconhecimento, pois desde Platão aprendemos que apenas o semelhante reconhece o semelhante. Assim, como na ausência há uma quimera de presença, na presença que se julga plena de existir há sempre uma horrenda pústula de deficiência. Isso é precisamente o Homem: a pretensa existência saturada de Ser, deficiente.

E agora vão alguns dizer que meu discurso é hermético mas não falo senão do que todos conhecemos bem. Conhecemos tão bem porque quase nunca nos atrevemos a enxergá-la. A chaga está ali, cravada de objetos pontiagudos que nos infeccionam até ao indizível mas ela é tão repugnante que poucos são os fortes de espírito que ousam contemplá-la e extrair à golpes de martelo o Belo de sua forma.

Mas já me enfastio - o que prova a exaustão da tarefa - e já não posso continuar. Apenas advirto que tal visão é para poucos. Os poucos que sabem que "essa doença não é para a morte".


G.


 
«Il n’y a pas d’amour de vivre sans désespoir de vivre.» Albert Camus, L'Envers et l'Endroit

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