Primeiros passos para uma estética da Revolta
"A contradição é a seguinte: o homem recusa o mundo como ele é, sem desejar fugir dele. Na verdade, os homens agarram-se ao mundo e, em sua maioria, não querem deixá-lo. Longe de desejar realmente esquecê-lo, eles sofrem, ao contrário, por não possuí-lo suficientemente, estranhos cidadãos do mundo, exilados em sua própria pátria."
Albert Camus in O homem revoltado
Em geral, os pensamentos filosóficos partem ou da experiência da unidade, ou da experiência da ruptura. Mas há uma terceira via, que parece ser a de Camus: da descoberta da ausência da unidade desejada que a ruptura revela; a idéia de simultaneidade é aqui fundamental pois revela duas presenças antagônicas no mesmo momento. É a crise da contradição tética e antitética presentes num mesmo e determinado momento sem solução numa síntese salvadora. É da manutenção da tensão que deverá brotar qualquer criação. Assim, o artista não deve afirmar o real em sua totalidade - portador e veiculo da rejeição causadora da ruptura -, tampouco negá-lo completamente, já que é dele que sua criação retira sua sede de unidade e é nele que ela se realiza.
G.